A Música e o Poder que Forma Almas

A música é uma das linguagens mais antigas e profundas da humanidade. Antes mesmo de existir escrita, os povos já transmitiam sabedoria, história e fé por meio do som. O ritmo era o compasso do tempo; a melodia, o fio invisível que unia o homem ao sagrado. Desde os cânticos dos templos de Jerusalém até as sinfonias de Bach e os improvisos de jazz que nascem do coração, a música sempre foi ponte entre o invisível e o humano.

Grandes mestres compreenderam esse poder. Beethoven, mesmo quando a surdez lhe roubou o som, compôs para o espírito — e a sua Nona Sinfonia ainda é ouvida como um chamado à esperança. Mozart, com sua precisão divina, decifrou a harmonia matemática da alma. Villa-Lobos, com sua brasilidade, transformou o som da terra em pedagogia emocional. Todos, à sua maneira, entenderam que a música educa, molda e eleva.

Mas, ao longo dos tempos, o que era ferramenta de elevação também passou a ser usada para distração e desordem. Nem toda melodia educa. Há sons que constroem e sons que corrompem; harmonias que elevam o caráter e ruídos que o deformam. Quando a música perde o propósito e se torna ruído do ego — repetindo padrões de vulgaridade, violência ou vazio — ela deixa de ser arte e passa a ser estímulo para a alienação. E o preço é alto, sobretudo nas mentes que ainda estão sendo formadas.

As crianças, em especial, são moldadas não apenas pelo que ouvem, mas pelo que sentem ao ouvir. Cada canção é uma semente emocional plantada em terreno fértil. Se a letra ensina respeito, gratidão e coragem, essa criança crescerá mais estável, consciente e forte. Se, ao contrário, o som banaliza o corpo, a raiva ou a desordem, a mente infantil absorve padrões que mais tarde se manifestarão em comportamentos e escolhas. A música é, portanto, instrumento de caráter e comportamento.

É por isso que tenho dedicado minha trajetória a criar canções infantis que devolvam à música seu papel de formadora — músicas que eduquem sem moralizar, que ensinem sem impor, que inspirem sem ferir a inocência. Músicas que falem de valores eternos como coragem, fé, bondade e verdade, mas façam isso de forma lúdica e alegre, no tom da infância.

Cada letra que escrevo nasce com o compromisso de unir educação, emoção e espiritualidade, despertando nas crianças o gosto pelo que é belo e o senso do que é certo. Não se trata apenas de cantar, mas de formar consciência. Pois uma geração que aprende a cantar com propósito também aprende a pensar com propósito — e essa talvez seja a mais alta função da arte.

A música não é neutra. Ela molda, direciona e desperta. Por isso, é urgente devolver-lhe a dignidade de ser linguagem da alma, não do ruído. Que cada som, cada verso e cada acorde que chegue aos ouvidos de uma criança seja também um convite silencioso à sabedoria, à sensibilidade e ao amor.

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